sexta-feira, 3 de junho de 2011

O que nos move o desafio, a curisidade!Como arrumar o homem!

“Arrumar o homem”


Não boto a mão no fogo pela autenticidade da estória que estou para

contar. Não posso, porém, duvidar da veracidade da pessoa de quem a escutei e,

por isso, tenho-a como verdadeira. Salva-me, de qualquer modo, o provérbio

italiano: “Se não é verdadeira... é muito graciosa!”

Estava, pois, aquele pai carioca, engenheiro de profissão, posto em

sossego, admitido que, para um engenheiro, é sossego andar mergulhado em

cálculos de estrutura. Ao lado, o filho, de 7 ou 8 anos, não cessava de atormentálo

com perguntas de todo jaez, tentando conquistar um companheiro de lazer.

A idéia mais luminosa que ocorreu ao pai, depois de dez a quinze convites a

ficar quieto e a deixá-lo trabalhar, foi a de pôr nas mãos do moleque um belo

quebra-cabeça trazido da última viagem à Europa. “Vá brincando enquanto eu

termino esta conta”. sentencia entre dentes, prelibando pelo menos uma hora,

hora e meia de trégua. O peralta não levará menos do que isso para armar o

mapa do mundo com dos cinco continentes, arquipélagos, mares e oceanos,

comemora o pai-engenheiro.

Quem foi que disse hora e meia? Dez minutos depois, dez minutos

cravados, e o menino já o puxava triunfante: “Pai, vem ver!” No chão, completinho,

sem defeito, o mapa do mundo.

Como fez, como não fez? Em menos de uma hora era impossível. O próprio

herói deu a chave da proeza: “Pai, você não percebeu que, atrás do mundo, o

quebra-cabeça tinha um homem? Era mais fácil. E quando eu arrumei o homem, o

mundo ficou arrumado!”

“Mas esse garoto é um sábio!”, sobressaltei, ouvindo a palavra final. Nunca

ouvi verdade tão cristalina: “Basta arrumar o homem (tão desarrumado quase

sempre) e o mundo fica arrumado!”

Arrumar o homem é a tarefa das tarefas, se é que se quer arrumar o mundo.

( Dom Lucas Moreira Neves Jornal do Brasil, Jan. 1997)